O pensamento do Papa Francisco na manhã de segunda-feira 3 de Junho dirigiu-se ao predecessor João XXIII – um «modelo de santidade» definiu-o – para recordar o cinquentenário da sua morte, mas também e sobretudo para relançar o seu testemunho num tempo em que até na Igreja há quem escolhe a estrada da corrupção e não a do amor como resposta ao dom de Deus para o homem. O Pontífice já tinha frisado o testemunho da santidade na oração inicial da missa em Santa Marta.
Durante a homilia, o Papa Francisco quis partilhar com os participantes algumas reflexões sobre o evangelho de Marcos (12, 1-12). «Penso – disse – nas três figuras de cristãos na Igreja: os pecadores, os corruptos e os santos. Dos pecadores não é preciso falar muito, porque todos nós somos tais. Conhecemo-nos a partir de dentro e sabemos o que é um pecador. E se algum de nós não se sente assim, deve fazer uma consulta com o médico espiritual: algo não funciona». O Santo Padre deteve-se mais sobre a figura dos corruptos. Na parábola evangélica, explicou, Jesus fala do amor grande do proprietário de uma vinha, símbolo do povo de Deus: «Ele chamou-nos com amor, protege-nos. Mas dá-nos a liberdade, dá-nos todo este amor «emprestado». É como se nos dissesse: Preserva e protege o meu amor como eu te protejo. É o diálogo entre Deus e nós: proteger o amor. Tudo começa com este amor».
Depois, os trabalhadores aos quais a vinha foi confiada «sentiram-se fortes, autónomos de Deus», explicou o Santo Padre, e «apropriaram-se daquela vinha e perderam a relação com o dono da vinha: os patrões somos nós! E quando alguém vai retirar a parte da colheita que cabe ao patrão, insultam-no, matam-no». Isto significa perder a relação com Deus, já não sentir a necessidade «daquele patrão». Isto fazem os «corruptos, os que eram pecadores como todos nós, mas deram um passo em frente»: «consolidaram-se no pecado e não sentem necessidade de Deus». Ou pelo menos, iludem-se que não o sentem porque – explicou o bispo de Roma – «no código genético há esta relação com Deus. E como não a podem negar, constroem um deus especial: eles mesmos».
Eis quem são os corruptos. E «este é um perigo também para nós: tornarmo-nos corruptos. Existem nas comunidades cristãs e fazem muito mal. Jesus fala aos doutores da lei, aos fariseus, que eram corruptos. E diz-lhes que são sepulcros caiados. E nas comunidades cristãs os corruptos são assim. Diz-se: Ah, é um bom cristão, pertence a tal confraria; é bom, é um de nós. Mas não: vivem para si mesmos. Judas começou como pecador avaro e acabou na corrupção. A estrada da autonomia é perigosa. Os corruptos são grandes esquecidos, esqueceram este amor com o qual o Senhor fez a vinha, fez cada um deles. Cortaram as relações com este amor. E tornaram-se adoradores de si mesmos. Quanto mal fazem os corruptos nas comunidades cristãs! O Senhor nos liberte de cair na estrada da corrupção!».
Mas na Igreja há também santos: que obedecem ao Senhor, adoram o Senhor, não perderam a memória do amor com o qual o Senhor fez a vinha.
«Peçamos hoje ao Senhor a graça de nos sentirmos pecadores, mas não corruptos. E a graça de continuarmos na estrada da santidade».
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