Cardeal Stanisław Ryłko - Encontro com os representantes dos movimentos e novas comunidades

Pronunciamento do Cardeal Stanisław Ryłko, Presidente Pontifício Conselho para os Leigos, na ocasião do encontro com os representantes dos movimentos e novas comunidades

Estou muito feliz de poder encontrar-vos no contexto desta reunião de preparação para o grande encontro do Papa com os jovens em julho de 2013 aqui, no Rio de Janeiro. Desde as origens das Jornadas Mundiais da Juventude os movimentos eclesiais e as novas comunidades têm um papel muito importante na preparação e na realização deste evento, cuja instituição foi, sem dúvida, uma das grandes escolhas proféticas do beato João Paulo II. Ele iniciou assim uma aventura espiritual que envolveu milhões de jovens de todos os continentes.

A história destes encontros dos jovens do mundo inteiro com o Sucessor de Pedro já tem mais de vinte e cinco anos. Neste período, as Jmj’s tornaram-se um poderoso instrumento de evangelização do mundo dos jovens e de diálogo com as jovens gerações. Como escreveu o papa Wojtyła, «a Igreja tem tantas coisas para dizer aos jovens e os jovens têm tantas coisas a dizer à Igreja».[1] Cada Jmj é uma epifania de uma Igreja que não envelhece, que é sempre jovem, porque Cristo é sempre jovem e sempre jovem é o seu Evangelho. A epifania de uma Igreja que – para a surpresa de todos – redescobre de um modo sempre novo a sua extraordinária força atrativa e agregativa também em relação às jovens gerações. As Jornadas mundiais da juventude representam realmente um dom providencial do Espírito Santo pra toda a Igreja, um novo sopro de esperança.

Um quarto de século após a Jmj realizada em Buenos Aires, este grande evento retorna ao continente Latino-americano. É um momento significativo para poder fazer uma revisão sintética dos frutos até então recolhidos. Quantas mudanças de vida aconteceram após as Jmj’s! Quais importantes descobertas para as vidas dos jovens! A descoberta de Cristo: Caminho, Verdade e Vida; a descoberta da Igreja como mãe e mestra e como “companhia de amigos” (Bento XVI), que sustenta no caminho da existência; a descoberta do Sucessor de Pedro como guia seguro e amigo em quem se pode confiar. Para tantos jovens a Jmj tornou-se uma espécie de “laboratório da fé”, como gostava muito de defini-la o papa Wojtyła, lugar onde redescobrir uma religiosidade que não se opõe com o “ser jovem”. Há quem afirme que no mundo dos jovens esteja acontecendo uma “revolução silenciosa”, cujo motor propulsor sejam exatamente as Jmj’s.[2] E, sem dúvida, graças às Jornadas mundiais da juventude, a Igreja reencontrou, às portas do terceiro milênio, seu rosto jovem, o rosto do entusiasmo e de uma renovada coragem. A história das Jmj’s é a fascinante história do nascimento de uma nova geração de jovens, a “geração Jmj”.[3] São os jovens do “sim” a Cristo e da adesão convicta à Igreja e ao Papa. João Paulo II chamava-os “sentinelas da manhã” (Roma 2000), “povo das bem-aventuranças” (Toronto 2002) e Bento XVI, “profetas de uma nova era”, “mensageiros do amor de Deus” (Sydney 2008).

A próxima Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em julho de 2013, será a segunda visita do Santo Padre Bento XVI ao Brasil. A primeira foi por ocasião da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, em Aparecida 2007. Pouco tempo depois, comentando sua experiência no Brasil, ele afirmava: «Fui ao Brasil sabendo como se expandem as seitas e como a Igreja parece um pouco esclerotizada; mas quando cheguei vi que quase todos os dias no Brasil nasce uma nova comunidade religiosa, nasce um novo movimento, não crescem só seitas. Cresce a Igreja com novas realidades cheias de vitalidade, não a ponto de encher as estatísticas esta é uma esperança falsa, a estatística não é a nossa divindade mas crescem nos ânimos e geram a alegria da fé, geram a presença do Evangelho, geram assim também verdadeiro desenvolvimento do mundo e da sociedade»[4]. 

No contexto da Igreja presente no Brasil e na América Latina, portanto, os movimentos eclesiais e novas comunidades têm se tornado, para milhões de jovens, autênticas fontes nas quais experimentaram uma renovação de sua fé. Após a Conferência de Aparecida, a Igreja Latino-americana está vivendo um período de forte e novo despertar missionário, através do empenho na “Missão continental”. E sem dúvida um papel significativo em tal missão diz respeito seja aos movimentos e novas comunidades quanto aos jovens. Uma concreta linha de ação apresentada pelo documento final da V Conferência do Episcopado Latino-americano é a renovação da opção preferencial pelos jovens na pastoral e a importância de se privilegiar, na pastoral juvenil, os processos de educação e de amadurecimento na fé como resposta de sentido, orientação da vida e garantia de compromisso missionário (cfr. n. 446).

Neste sentido, as Jmj’s devem impulsionar a pastoral juvenil ordinária a um esforço paciente e perseverante de iniciação cristã e de educação das jovens gerações à fé. Educar os jovens à fé é um dos grandes desafios que a Igreja latino-americana está enfrentando para fazer frente à perigosa difusão das seitas que se nutrem da ignorância religiosa de muitos católicos. Assim, por trás de cada Jmj há e deve haver sempre o trabalho pastoral de dioceses e paróquias, mas também a obra  educativa de associações e movimentos eclesiais. As Jmj’s devem ser preparadas e devem ter um seguimento em comunidades cristãs vivas. É necessário dar juntos continuidade ao evento na vida ordinária dos jovens, ajudando-os a “digerir” os conteúdos da Jmj a fim que sejam alimento para suas vidas.

Os itinerários propostos pelos movimentos e novas comunidades confirmam a afirmação do Santo Padre de que «no início do ser cristão não se encontra uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e com isto a decisão decisiva».[5] Sendo assim, a tarefa específica de quem evangeliza os jovens é anunciar-lhes Jesus Cristo. E os jovens esperam sobretudo isto. Não aceitam moralismos, nem estão dispostos a deixar-se subornar com pílulas de pseudo-sabedoria humana ou réplicas dos doutos discursos socioculturais que já enchem as páginas dos jornais. Cristo não deve ser nunca um pretexto para falar aos jovens de outras coisas, de coisas que se pensa serem para eles mais interessantes e atrativas. Cristo deve estar no centro! A tarefa do evangelizador é aquela de ajudar cada jovem a encontrar Cristo redentor!” Deste encontro nasce sempre um impulso missionário: «Ide... Sereis minhas testemunhas!...» (traditio - redditio). E neste específico âmbito, os carismas dos movimentos eclesiais e das novas comunidades geraram itinerários pedagógicos de extraordinária força persuasiva.

Durante a solene abertura do seu pontificado Bento XVI dizia: « Não há nada mais belo do que ser alcançados, surpreendidos pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada de mais belo do que conhecê-Lo e comunicar com os outros a Sua amizade. ».[6] E alguns dias antes da Jmj celebrada em Colônia, a um jornalista que lhe perguntava «Santidade, o que gostaria de modo especial de transmitir aos jovens que estão chegando do mundo inteiro?», ele respondeu: «Queria convencer estes jovens que é belo ser cristãos!». A  beleza da fé é um tema que retorna muitas vezes nos discursos deste Papa: «As nossas crianças, adolescentes e jovens têm necessidade, de viver a fé como alegria, de saborear aquela serenidade profunda que nasce do encontro com o Senhor [...]  fonte da alegria cristã é esta certeza de sermos amados por Deus».[7] Eis, assim, a meta da pastoral juvenil: fazer conhecer aos jovens a beleza da fé em Jesus Cristo.

A experiência das Jornadas Mundiais da Juventude, assim como a dos movimentos e novas comunidades ensinam que o encontro pessoal com Cristo é sempre inseparável do encontro com a sua Igreja. Seguir Jesus na fé quer dizer caminhar com Ele na comunhão da Igreja. Não se pode separar Cristo da sua Igreja! O Papa Bento XVI é muito claro a respeito: «Peço-vos, queridos amigos, que ameis a Igreja, que vos gerou na fé, que vos ajudou a conhecer melhor Cristo, que vos fez descobrir a beleza do Seu amor. Para o crescimento da vossa amizade com Cristo é fundamental reconhecer a importância da vossa feliz inserção nas paróquias, comunidades e movimentos».[8] Ele afirma ainda que nas Jmj’s os jovens “vêm que não estão sozinhos, que existe uma grande rede de fé, uma enorme comunidade de crentes no mundo, que é bom viver nesta amizade universal”.[9] Apesar das diversas línguas, culturas, todos se sentem profundamente unidos e parte de uma grande família espiritual e isto dá uma grande força à sua fé.

Por fim, não podemos esquecer que participar das Jornadas Mundiais da Juventude significa assumir a responsabilidade das consequências daquilo que nestas foi semeado, seja por parte dos responsáveis da pastoral juvenil nas Igrejas locais, nas paróquias, seja nas associações juvenis e nos movimentos eclesiais. Após a Jmj de Madri, já se passaram vários meses. Tenho certeza que tantos bons frutos cresceram na vida de muitos jovens que participaram do evento... Mas a grande aventura espiritual das Jmj’s não para. Já iniciamos o caminho rumo a Rio 2013. Em nome do Santo Padre agradeço-vos por tudo o que já fazeis pela evangelização do mundo juvenil. E digo-vos novamente: a Igreja conta convosco em todo este processo de preparação missionária à JMJ. Tenho certeza que será um tempo de graça especial para a Igreja do Brasil, da América Latina e para as vossas comunidades e movimentos.

Referencias
[1] JOÃO PAULO II, Exortação apostólica Christifideles laici, n. 46.
[2] Cfr F. Garelli, La sensibilità religiosa emergente, in: F. Garelli-R. Ferrero Camoletto (a cura di), Una spiritualità in movimento, Messaggero di S. Antonio Editrice, Padova 2003, p. 267 [nossa tradução].
[3] Cfr M. Muolo, Generazione GMG, Ancora Editrice, Milano 2011 [nossa tradução].
[4] Bento XVI, Encontro com o clero das dioceses de Belluno-Feltre e Treviso, 24 de julho de 2007.
[5] Bento XVI, Carta encíclica Deus caritas est, n. 1.
[6] Bento XVI, Homilia durante a solene concelebração eucarística para o início do ministério petrino, 24 de abril de 2005.
[7] Bento XVI, Discurso aos participantes no Congresso eclesial da diocese de Roma, 5 de junho de 2006.
[8] Bento XVI, Celebração  eucarística conclusiva da Jornada Mundial da Juventude de Madri 2011, 21 de agosto de 2011.
[9] Bento XVI, Entrevista concedida aos jornalistas durante a viagem para Madri, 18 de agosto de 2011.
Fonte: www.rio2013.com/pt/noticias/detalhes/227/encontro-com-os-representantes-dos-movimentos-e-novas-comunidade

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